sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Birdwatching na Serra Catarinense

CORUJADA NA SERRA CATARINENSE – II
Na última postagem, relatei nossa aventura pelas matas de Bom Retiro/SC a procura da Corujinha-do-sul (Megascops sanctaecatarinae) e não poderia deixar de comentar sobre outra espécie rara de coruja, ainda pouco estudada e que está ameaçada de extinção, a qual foi encontrada em Urupema/SC. Durante o dia eu e o Lesther estivemos passarinhando na agradável companhia dos amigos Amaro Alves, fotógrafo que reside em Brasília-DF e do Fernando Raddatz proprietário da Eco Pousada Rio dos Touros. Assim que caiu a noite nos dirigimos para a floresta de Araucária muito bem preservada na Eco Pousada e comecei a reproduzir o pio da Coruja-listrada (Strix hylophila). Nossa atividade despertou o interesse do Graxaim (Pseudalopex gymnocercus) um mamífero da família dos canídeos que vive nos arredores da pousada. Passados alguns minutos o Fernando que nos auxiliava com a lanterna, percebeu que algo havia se aproximado, mirou o facho de luz e para nossa alegria ali estava diante de nós a Coruja-listrada toda majestosa pousada sobre um galho de araucária decoradamente coberto por liquens verdes. Fizemos alguns registros e logo a imponente coruja voou. Mesmo na escuridão consegui acompanhar sua trajetória e percebi que ela havia se acomodado em galho espinhento de uma jovem araucária e ali permaneceu por um bom tempo nos permitindo fazer inúmeros registros. Depois voou para outro galho e se posicionou de costas, assim pude fotografá-la dando destaque para seu dorso e asas.   
Essa espécie conhecida popularmente como Coruja-listrada e cientificamente como Strix hylophila, pertence à ordem dos strigiformes e a família strigidae. De médio porte mede cerca de 35 cm. Alimenta-se principalmente de insetos, ratos, e pode predar lagartos e aves pequenas ocasionalmente. Seu período de reprodução se inicia entre os meses de agosto e outubro, nidificando em troncos e ocos de arvore, recurso que não é muito frequente e pelo qual as corujas competem com uma série de outros animais. Tem um período de incubação de 29 dias em média, com os filhotes já totalmente independes com cerca de 4 meses. Ocorre nas regiões sudeste e sul do Brasil.


Graxaim (Pseudalopex gymnocercus) mamífero da família dos
 canídeos que vive nos arredores da Eco Pousada Rio dos Touros




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© Todos os Direitos Reservados - Estas fotos estão protegidas pela Lei do Direito Autoral, Nº 9.610, de 19/02/98. Portanto é proibida qualquer reprodução ou divulgação, com fins comerciais ou não, sem minha prévia autorização. Contato: e-mail - dario_lins@hotmail.com

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Birdwatching na Serra Catarinense

CORUJADA NA SERRA CATARINENSE - I

Uma das atividades mais empolgantes na observação de aves é a corujada. Em meio à escuridão total da mata, munido com uma boa lanterna e repetindo o pio da espécie a ser observada, é o que basta para visualizar as corujas dando voos baixos em direção ao playback e vindo pousar muito perto, sempre em galhos perfeitos proporcionando belas composições fotográficas.
Juntamente com meu filho Lesther, minha esposa Soraya e tio Walter, tivemos na região de Matador/Bom Retiro-SC, momentos alucinantes neste final de semana . Logo que entramos na mata e reproduzimos o som do pio da Corujinha-do-sul (Megascops sanctaecatarinae) já ouvimos vários indivíduos de perto e longe responderem e em questão de segundos estavam voando bem próximos de nós. Como eu e o Lesther estávamos fotografando é sempre interessante contar com o apoio de alguém para ser o “lanterninha” da noite, papel esse muito bem desempenhado pelo tio Walter e Soraya. Pois, assim que a coruja pousa, a lanterna deve ser dirigida para a ave facilitando para o fotógrafo conseguir foco o que às vezes é dificultado pela falta de luz. Um bom flash é importante para se obter registros livres de ruídos nas imagens.     

A espécie que encontramos é conhecida popularmente como Corujinha-do-sul, mede 28 cm de comprimento. Simpátrica (1) com a Corujinha-do-mato (Megascops choliba)  e com a Corujinha-sapo  (Megascops atricapilla) apresenta três fases distintas de coloração de plumagem (marrom, cinza e ruiva). Alimenta-se de insetos, aranhas e pequenos vertebrados. Os machos começam a vocalizar no crepúsculo, durante o período reprodutivo, o que ocorre entre agosto e setembro. Nidifica em ocos de árvores ou em ninhos de pica-pau de grande porte. Apenas a fêmea incuba os ovos, sendo alimentada por seu parceiro nesse período. Possui hábitos estritamente noturnos e ocasionalmente crepusculares. Durante o dia, dorme em meio à densa folhagem nas árvores. Vive em áreas semi-abertas e florestas de araucária.  Ocorre apenas no sul do Brasil.






1- Simpátrica - divergência genética de várias populações de uma espécie parental única e que habitam a mesma região geográfica, de modo que essas populações se tornam diferentes.  




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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Birdwatching na Serra Catarinense

GRIMPEIRO (LEPTASTHENURA SETARIA)
X
GRIMPEIRINHO (LEPTASTHENURA STRIOLATA)



Essas duas espécies estão intimamente associadas ao Pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia). Ambas vivem na copa das Araucárias e eventualmente procuram alimentos nas folhas do Pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii). Habitam nas florestas de araucária ou até mesmo quando essas árvores aparecem isoladas. Alimentam-se de pequenos artrópodes e suas larvas encontradas nas folhas do pinheiro-bravo e nas grimpas do pinheiro-brasileiro.

O Grimpeiro com 17 cm é visivelmente maior que o Grimpeirinho que mede apenas 15 cm. Bastante ágeis e inquietos possuem uma habilidade incrível para se deslocar entre os espinhos da araucária sem se machucarem. A vida desses dois pássaros está associada ao pinheiro, havendo certa cooperação, quase uma simbiose entre as aves e os pinheiros. Pois, o pinheiro fornece o alimento que foi depositado por insetos entre suas folhas e o grimpeiro e grimpeirinho livram as árvores destes insetos que podem vir a prejudicá-las.

Ao encontrar uma larva ou inseto, tanto o grimpeiro quanto grimpeirinho a golpeiam com o bico contra o galho para atordoá-lo e assim podem se alimentar com tranqüilidade.

Ao viverem entre as grimpas pontiagudas das araucárias, essas duas avezinhas recebem além do alimento, proteção de predadores que não ousariam atacá-los evitando se machucarem nos espinhos pontiagudos como agulhas.

Com a derrubada ilegal e criminosa dos pinheiros-brasileiros, é iminente a ameaça de extinção para essas duas espécies singulares e  endêmicas das florestas de araucária. 











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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Birdwatching na Serra Catarinense

CONHECER PARA PRESERVAR
OLHAI AS AVES DO CÉU – Registro Fotográfico da Avifauna da Serra Catarinense

“Deus me deu por gaiola a imensidade: Não me roubes a minha liberdade...Quero voar! Voar!...“  (Olavo Bilac)



Nesta semana estive ministrando palestras para as turmas da 6a série da Escola de Educação Básica Alexandre de Gusmão e 5a Série da Escola Adventista de Bom Retiro. Mais de 200 crianças participaram das atividades. A palestra teve como tema: CONHECER PARA PESERVAR /OLHAI AS AVS DO CÉU – Registro Fotográfico da Avifauna da Serra Catarinense.

Apresentei às crianças um vídeo com fotos das belas aves que fotografei nestes quatro anos de atividade e assim constataram que possuímos em Bom Retiro e na Serra Catarinense uma diversidade de belíssimas espécies.  Falei-lhes acerca do trabalho que venho desenvolvendo e minhas preocupações no que se refere à preservação e proteção das aves em nossa região.
Com um breve histórico lhes falei de minha infância e a forma como aos 14 anos me conscientizei de que as aves deveriam ser livres e minha decisão de abrir as gaiolas e deixar para trás aquele passado de crimes ecológicos.

Na seqüência falei das principais ameaças à avifauna da nossa região:
- Agrotóxicos;
- Desmatamentos;
- Poluição;
- Caça;
- Tráfico.

Com relação aos agrotóxicos enfatizei que o uso indiscriminado e intensivo de venenos têm sido responsável pela dizimação de inúmeras espécies de aves.  Trouxe ao conhecimento dos alunos que em Santa Catarina é proibido pela Lei 14.734 de 17/06/09 o uso de herbicidas e defensivos agrícolas, para a capina química em áreas urbanas. Prática muito comum, que têm sido causadora da morte de inúmeras espécies, entre elas o Pintassilgo que têm desaparecido consideravelmente de nossa cidade. Informei-lhes que outro fator que têm sido uma forte ameaça as aves é o desmatamento que infelizmente ainda ocorre em Santa Catarina que originalmente era 100% coberto pela Mata Atlântica e hoje restam apenas 23,04% dessa área original. 

Em Bom Retiro aonde tínhamos 100% de Mata Atlântica restam hoje 37,29% dessa área original.  Embora já tenha havido muito desmatamento, somos o quarto Município com a maior área preservada do Estado de Santa Catarina (39.488 hectares). No ano passado foram derrubados 14 hectares de mata em Bom Retiro, dados estes obtidos junto a ONG SOS Mata Atlântica.

Outro fator que tem prejudicado a natureza e por sua vez uma ameaça as aves é poluição dos rios, lagos e todo meio-ambiente. O que foi constatado pelos próprios alunos que conhecem a realidade do nosso município. Segundo as estimativas cada brasileiro produz cerca de  378 kg de lixo por ano, mais de 1 kg por dia. Informei aos alunos sobre a importância da reciclagem e o cuidado que devemos ter com o lixo que produzimos em especial o descarte de plásticos que levam 500 anos para se decomporem na natureza, interferindo diretamente no ecossistema. Chamei a atenção para o problema do descarte de pilhas e baterias as quais são altamente poluidoras do meio ambiente, liberando metais poluentes capazes de entrar na cadeia alimentar, afetando tanto as aves, outros animais e seres humanos.

Outra ameaça as nossas aves é a caça predatória, muito comum em nossa região.  Além da caça o tráfico de aves é muito forte e têm contribuído para a extinção de muitas espécies como o Trinca-ferro-verdadeiro, conhecido como “tia-chica” o qual é no momento a ave mais visada pelos passarinheiros e traficantes. Tornei as crianças cientes de que o tráfico de aves silvestres é o terceiro maior comercio ilegal do mundo, perdendo apenas para o comércio de drogas e armas, enfatizei que somente uma em cada dez aves sobrevive ao tráfico, o que resulta em 12 milhões de aves mortas todos os anos vítimas do comércio clandestino.

Fiz os alunos entenderem que as aves estão pedindo ajuda e lhes ensinei como ajudá-las.
Sugeri que os alunos plantassem árvores nativas como o Pinheiro-brasileiro; Pinheiro-bravo; Aroeira; Ipê-amarelo; Uvaia; Sete-capotes; Pitanga; Canela; Guabiroba e Sassafrás.
Outra forma de ajudar seria não poluindo o meio-ambiente com ênfase na reciclagem de lixo;
Orientei as crianças para que cobrassem dos familiares, vizinhos e autoridades o cumprimento da lei que proíbe o uso de agrotóxicos para a capina química nas áreas urbanas.

Outra forma de colaborar é não caçando ou promovendo o tráfico das aves. Orientei-os a não comprar e denunciar o tráfico para a Polícia Ambiental através do telefone: (49) 32233122E sugeri para aqueles que ainda mantêm alguma ave aprisionada que abram à gaiola, devolvendo à liberdade as aves foram criadas para viverem livres trazendo um colorido especial a nossas vidas.

Apresentei para conhecimento dos alunos a lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção e a cauda das ameaças tanto em Bom Retiro quanto na Serra Catarinense, sendo algumas destas aves:

Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea); Papagaio-charão (Amazona pretrei); Coruja-listrada (Strix hylophila); Pedreiro (Cinclodes pabsti); Gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) Grimpeiro (Leptasthenura setaria); Gralha-azul (Cyanocorax caeruleus); Noivinha-de-rabo-preto (Xolmis dominicanus); Pica-pau-dourado (Piculus aurulentus) entre outras.

Penso que cumpri com minha parte, orientando as crianças para desde já formarmos cidadãos mais conscientes e preocupados em preservar o que ainda temos de beleza em nossa região, tão singular nesse Brasil continental.

Se apenas um aluno se conscientizar, já me sinto feliz, pois será um ser humano a mais nessa corrente do bem que luta contras as forças daqueles que perversamente destroem o que ainda temos de belo neste mundo.

Creio de fato que um dia, parafraseando Leonardo da Vinci - "os homens conhecerão o íntimo das aves e neste dia, um crime contra uma ave será considerado um crime contra a humanidade".


Deixo aqui um agradecimento especial aos diretores, professores e alunos que viabilizaram e participaram ativamente deste projeto.