quarta-feira, 9 de março de 2011

EM BUSCA DO “TESOURO” DOS OTTO

Por Dario Lins

DIÁRIO DE BORDO: VIAGEM DE BOM RETIRO/SC À ARISTÓBULO DEL VALLE - ARGENTINA


No ano de 2004 publiquei o livro “FÉ, HONRA E CORAGEM DE UM POVO” no qual apresento a história das famílias alemãs pioneiras do adventismo em Bom Retiro/SC, foram 8 anos de intensas pesquisas de resgate histórico para que o livro pudesse ser concluído. Entre as famílias citadas no meu livro estão os OTTO e REICHENBACH, ambas viveram cerca de três décadas no Brasil. Se converteram ao adventismo no ano de 1901 e na década de 1920 imigraram para a Argentina se estabelecendo em Aristóbulo del Valle cidade pertencente à Província de Missiones. 

Enquanto fazia as pesquisas para meu livro, fui informado pelo Sr. Alberto Grüdtner o qual faleceu aos 96 anos, e que em vida fora um profundo pesquisador e procurador de tesouros enterrados por tropeiros e jesuítas, de que, Augusto Manoel Otto havia imigrado de Bom Retiro/SC para a Argentina porque teria encontrado um “guardado” contendo moedas de ouro no sopé do Morro do Trombudo, na curva do vento no ponto exato do divisor de águas, local este aonde viviam. Certamente o receio de alguém vir e requerer o tesouro lhe fez mudar-se para Argentina juntamente com sua esposa Otilia Matilde Reichenbach e seus sogros Heinrich Reichenbach e Justine Rienas Reichenbach.  As informações que me haviam passado embora viessem de uma pessoa de caráter inquestionável, podiam ser apenas suposições ou lendas, assim sendo, lembro-me que decidi omitir este fato no relato histórico das famílias. Porém embora não estivesse registrada no papel de minha memória nunca a excluí.

Ano passado tive a grata satisfação de conhecer o sr. Hélio Francisco de Souza, proprietário da Empresa Chá Chileno em Chapecó/SC. Recebemos sua visita porque descobrimos que sua avó era Werlich, portanto ele seria parente de minha esposa Soraya Alice Werlich de Lins. De todos os livros publicados em 2004 me restava apenas um único exemplar. Assim sendo, presenteei o sr. Hélio com o último volume do meu livro. Em Bom Retiro visitamos alguns parentes e o nosso Museu da Memória dos Imigrantes Alemães de Entrada – Bom Retiro/SC, e o Sr. Hélio seguiu viagem de volta para sua casa.

Poucos dias depois recebi sua ligação me indagando sobre o que eu havia escrito sobre os Otto e Reichenbach que haviam imigrado na década  de 1920 para a Argentina. Confirmei as informações e então ele me disse que conhecia a região de Aristóbulo del Valle e que estava decidido a viajar em busca dos descendentes dos Otto e Reichenbach. Com seu espírito aventureiro e muito bem embarcado em seu Troller viajou de Chapecó até Aristóbulo del Valle. De volta a sua casa novamente me ligou muito emocionado, pois, havia obtido êxito em sua missão. Os descendentes dos Otto e Reichenbach foram por ele encontrados.  Assim sendo, por telefone me convidou a retornar com ele para a Argentina e por eu mesmo atestar a veracidade dos fatos. Sem titubear prontamente aceitei o convite e marcamos a data da viagem para os dias 03 a 08 de março, como convite era extensivo ao meu cunhado Walter Emir Werlich, no dia 03 de março exatamente as 05:00 hs da madrugada saímos de Bom Retiro em direção a Chapecó, destino alcançado as 11:00 hs da manhã. Após um saboroso almoço na casa do sr. Hélio, guiados pelo “General”, nos dirigimos de Troller para nossa aventura. Ao final da tarde chegamos a Dionísio Cerqueira município catarinense que faz divisa com a Argentina e o Estado do Paraná. Numa farmácia fizemos a troca dos míseros reais que tínhamos por pesos Argentinos e com o câmbio de R$ 0,45 (quarenta e cinco centavos) ficamos “podres” de rico. Antes de nos dirigirmos ao Hotel Iguaçu, aonde, ainda pernoitamos em terras tupiniquins, fomos fotografar o Marco da divisa entre Brasil e Argentina e com um pé no Brasil e outro na terra dos “hermanos” registramos com alegria o momento.





Logo cedo após o desjejum e com uma bandeira Brasileira e outra Argentina, hasteadas nos mastros do Troller entramos em terra estrangeira. Na Aduana de Bernardo de Irigoyen, fizemos nosso registro de imigração e apresentamos a Carta Verde (Seguro Obrigatório para Condutores de Veículos Terrestres em Viagens dentro do Território Mercosul), adquirida já na noite anterior.

Quando entramos na Argentina a primeira impressão que tivemos era de que não éramos bem vindos em seu país. Após uma minuciosa revista, inclusive nas fotos de minha câmara para atestar que eu não havia fotografado seu posto militar (certamente por uma questão de segurança nacional), nos permitiram entrar.

Como primeiro destino tomamos a Ruta 14 e nos dirigimos a cidade de San Pedro. Antes da chegada paramos as margens da estrada para conhecer um pouco da cultura indígena do local. Em questão de segundos estávamos rodeados de crianças indígenas da tribo Guarani. Demos-lhes bolachas (massitas) e então nos permitiram fotografá-los. 

Dario Lins entre os indios Guaranís de Missiones - Argentina


Índio Guaraní - Missiones / Argentina


General Hélio com o cacique da tribo

Após alguns cliques, porém sem sucesso algum na comunicação com os índios que somente falam a sua língua nativa, retomamos viagem a San Pedro. 

Ao chegarmos ao local fomos visitar um museu que resgata a história local e após nos dirigimos à casa da família Nachtigal, família de imigrantes poloneses que professam a fé adventista no local e assim, conhecidos de muitos anos do sr. Hélio. 

Museu de San Pedro


Almoço com a família Nachtigal - San Pedro



Por esta família fomos muito bem recebidos e com extrema cortesia e gentileza nos convidaram para almoçar, de forma, que a “má impressão” na fronteira, de que, não éramos bem vindos na Argentina rapidamente se foi embora. Barriga cheia, coração contente pé na estrada, ou melhor, pneu na estrada, de San Pedro viajamos a San Vicente e de lá passamos por Dos de Mayo e seguimos até nosso destino pretendido – Aristóbulo del Valle. 

Ao final da tarde chegamos à casa do Sr. Miguel Otto e sua esposa Alicia Schlemper de Otto, os quais passam seu tempo dedicando-se ao cultivo de belíssimas orquídeas. 

Sra. Alicia Schlemper de Otto


Família de Miguel Otto e Alicia Schlemper de Otto

 
Como Miguel Otto era filho de Gustavo Otto irmão do Otto o qual supostamente na década de 1920 teria encontrado um tesouro em Bom Retiro, precisávamos contatar os descendentes de Augusto Manoel Otto.

Assim sendo, nos dirigimos à casa do Sr. Aldo Genske, neto de Augusto Manoel Otto, o qual com gentileza e extrema hospitalidade nos abriu as portas de sua casa e nos apresentou as fotos de seus antepassados das famílias Reichembach e Otto. Aldo Genske é o tipo de pessoa que desde o primeiro contato se percebe tratar-se de um ser humano dono de um coração puro e bondoso. 

Helio Francisco de Souza juntamente com a família de Aldo Genske


Heinrich Reichenbach e Juntina Rienas Reichenbach


Augusto Manoel Otto e família




Após tirar algumas fotos dos quadros antigos de seus antepassados, os quais haviam vivido e conhecido o adventismo em Bom Retiro, visualizei pendurado em sua parede o relógio de bolso que havia pertencido ao seu bisavô Heinrich Reichembach, arrisquei um pedido de doação do relógio para o acervo do “Museu da Memória dos Imigrantes Alemães e Entrada – Bom Retiro/SC”, do qual sou presidente fundador, e para minha surpresa, sem nenhum traço de egoísmo em seu semblante Aldo Genske olhou para mim e disse:

- É seu, pode levar, vocês vieram de tão longe com uma missão tão importante e eu quero contribuir de alguma forma com este trabalho.



Que espírito de desprendimento eu encontrei nessa pessoa que recém havia conhecido. Muito diferente de alguns que escondem em suas casas egoístamente as peças deste enorme quebra cabeças que estamos há anos tentando montar. De sua casa nos levou aos pés de jabuticaba os quais foram plantados por seu avô Augusto Manoel Otto, uma delícia que saboreamos em baixo da frondosa e antiga jabuticabeira. Aos fundos de seu terreno avistamos suas lindas plantações de chá. 

Plantações de Chá


E então decidimos procurar um lugar para pernoitar no Acampamento Adventista Salto Encantado de Aristóbulo del Valle. 

Aldo Genske e Dario Lins

Uma vez hospedados fomos eu, meu cunhado Walter e os amigos Sr. Hélio e Aldo Genske até o Restaurante do senhor de Brum e com muita atenção e refinado toques culinários sua esposa sra. Marta nos preparou um jantar muito saboroso. 

Aldo Genske - Hélio Francisco de Souza - Walter Werlich


Assim sendo, este restaurante se tornou nosso local para as refeições e por dois dias pernoitamos em Aristóbulo del Valle, sendo pelo amigo Aldo, guiados de um lado para outro.

Um dos locais que não poderíamos deixar de visitar era o cemitério, local aonde estão sepultados aquelas pessoas  que seus nomes e atos heróicos há muitos anos eu retinha em minha mente de escritor e historiador. Lá estavam eles descansado o sono dos justos – Heinrich Reichenbach que viveu 107 anos, sua esposa Justine Renas Reichenbach que viveu 105, os quais viveram juntos por 89 anos. Sobrepujando as listas de festas matrimoniais que comumente termina aos 80 anos nas bodas de carvalho. Ali também estava o túmulo de Otilia Matilde Reichenbach e de seu esposo Augusto Manoel Otto.

Lápide Tumular de Heinrich (Enrique) Reichenbach - Viveu 107 anos

Lápide Tumular - Justina Rienas Reichenbach - Viveu 105 anos

Lápide Tumular de Otilia Matilde Reichenbach  - Esposa de Augusto Manuel Otto



Lápide Tumular de Augusto Manoel Otto

Que curiosidade de perguntar para o Aldo se algum dia teria ouvido falar que seu Avô que ali jazia teria encontrado em Bom Retiro um tesouro. Quando me apercebi o tino de pesquisador e historiador falou por mim:


- Aldo por acaso você ouviu alguma vez de seus antepassados sobre um tesouro que teria sido encontrado em Bom Retiro, o qual trouxeram, com eles para a Argentina?


Com aquela sinceridade que percebi lhe ser peculiar desde o primeiro contato ele me respondeu:

- Meu avô Augusto Otto nunca falou sobre isso, mas após sua morte, minha avó me contou que ao entrarem na Argentina tinham moedas de ouro, sendo com uma delas que comparam uma máquina de costura e muitos tecidos, recebendo em troca muito dinheiro. Meu avô Augusto Manoel Otto adquiriu aqui 3000 (três mil) hectares de terra.

Que descoberta histórica eu havia feito, aquilo que sempre acreditei ser uma lenda em minha cidade contada pelos antigos era a mais pura verdade! O Tesouro dos Otto era real. Apontado para os arredores e em direção ao Parque do Salto Encanado local de estrema beleza ele disse:


- Tudo isso pertenceu ao meu avô.

Com o senso de missão cumprida, do cemitério nos dirigimos ao Parque do Salto Encantado para fazer algumas fotos da bela cachoeira que é avistada a poucos metros da entrada.

Agora eu estava em casa, em meio à mata, é claro, não me contive e comecei por entre as trilhas procurar alguma ave para fotografar.  Peguei meu gravador e disse para os amigos que me acompanhavam, querem ver um Surucuá? O sr. Hélio e o Aldo ficaram me olhando e talvez pensando que não conseguiria atraí-los. Aldo nem se quer o conhecia. Então eu disse, que se estivem por ali não daria 5 minutos para apareceram.  Walter foi comigo e dito e feito em poucos minutos lá estavam bem a nossa frente dois surucuás-de-barriga-amarela. Fiz algumas fotos as quais encantaram o Sr. Hélio e o Aldo. Além dos surucuás fotografei, gralhas-picaças, tangarás, cais-cais e quiriquiris. 

Surucuá-de-barriga-amarela (Trogon rufus)


Gralha-picaça (Cyanocorax chrysops)

Tangará (Chiroxiphia caudata)

Quiriquiri (Falco sparverius)


Esses registros fiz em pouco tempo, pois precisávamos retornar e continuar nossas visitas. Mas, antes, em meio a bem preservada mata atlântica do Parque do Salto Encantato de Aristóbulo del Valle aproveitamos para aprender um pouco sobre botânica com o sr. Hélio Francisco de Souza, nosso “General” o qual, é um profundo conhecedor de plantas, conhece cada haste de erva e suas propriedades curativas. Curvado diante seus conhecimentos  eu lhe disse:

- Seu Hélio o senhor é o tipo de pessoa que deveria viver 200 anos.

Ele me olhou e com aquele jeito brincalhão me indagou:
- O que é que você está me dizendo? Dias atrás no meu sítio em Chapecó outra pessoa disse a mesma coisa, porém disse que eu deveria viver 1000 anos!

Ao que lhe respondi: 

- Está bem, me desculpe General, o senhor deveria viver 2000 anos. Esta bom assim?

Entre uma brincadeira e outra retornamos para a casa do Aldo e fomos visitar seu irmão Arno e seu pai Sr. Amando Genske que está com 81 anos de idade, genro de Augusto Otto, pessoas também de um carisma imenso. Entre um tereré e outro, um ótimo bate papo em portunhol e alemão, vimos mais fotos antigas e aproveitamos para obter mais informações genealógicas sobre a família Otto.  

Aldo Genske - Amado Genske  - Arno Genske - Luisa Stier de Genske - Dario Lins e
Hélio Francisco de Souza

Rapidamente solidificamos nossa amizade e fomos convidados para almoçar no dia seguinte um legítimo churrasco argentino assado na grelha (parlla) o qual seria preparado pelo anfitrião Arno Genske.

Seguindo as ordens do General Hélio fomos até a casa do sr. Juan Podkowa um descendente de poloneses que imigraram do Rio Grande do Sul para a Argentina. Esse senhor Podkowa estava para nos surpreender, vive uma vida humilde cultivando o campo e colhendo amendoim, limão e fumo o qual é por ele mesmo preparado e enrolando artesanalmente para ser fumado e mascado como é o hábito de muitos por lá. Um detalhe importante: o Sr. Podkowa não usa o tabaco que produz. Já se convenceu dos malefícios para a saúde.

Juan Podkowa - Fumo em corda

Mas não era isso que estava para nos surpreender e sim o estranho hábito desse polonês argentino de criar em seu terreiro cobras perigosíssimas como cascavéis e jararacas, as quais ficam presas em simples latas e caixas espalhadas pelo seu quintal. Atendendo nosso pedido, soltou algumas cobras para que pudéssemos fotografar e filmar. Não posso dizer que isso é para qualquer um, têm que ter no mínimo um pouco de coragem para ficar andando entre as cobras e vendo-as dando botes de um lado para outro. O Walter muito corajoso se abaixou para obter uma tomada baixa e uma jararaca deu um bote em sua direção, sorte que ele estava a uma distância segura. Por pouco um galo não foi picado, nunca pensei que um galo pudesse ser tão rápido para se esquivar do bote de uma jararaca.




Com nenhuma proteção e de dar inveja em qualquer apresentador de documentários do Animal Planet ou Discovery Channel o sr. Podkova manuseava as cobras em suas mãos, fiz o registro no exato momento em que ele abriu a boca de uma jararaca e a fez mostrar as presas anteriores dotadas de um canal central por onde escorria o veneno. Somente após os registros, aproximando as fotos pude notar que os dedos do Sr. Podkova estavam arranhados, se o veneno escorresse por entre seus dedos machucados  certamente seria envenenado.




Juan Podkowa segurando uma cascavel pelo rabo.


Podkowa abrindo a boca de uma jararaca e com um graveto mostrando suas presas
 Havia uma cascavel que estava muito irritada com nossa presença e o som do seu guizo podia ser ouvido em alto e bom som.  Com certeza pessoas que sofrem fobia de serpentes jamais ficariam naquele local.


Jararaca (Bothrops jararaca)


Cascavel (Crotalus durissus terrificus)



Como as alimentam? Perguntei! Lá nos levou a esposa do sr. Podkowa até o criadouro de ratos. Uma caixa cheia de ratos para alimentar as cobras. Segundo me informaram cada serpente come cerca de 4 ratos por ano. Após  um registro com toda a família Podkowa fomos jantar para finalizarmos mais um dia de aventuras na Argentina.


Hélio F. de Souza juntamente com a família de Juan Podkowa

No dia seguinte saímos do acampamento Adventista e ao acertamos a hospedagem na saída, mais uma surpresa: Os responsáveis pela manutenção do local possuem o sobrenome alemão SHINDLER.

Shindler de Oskar Shindler? Perguntei! Naturalmente a senhora que nos atendeu respondeu:
- Sim, meu avô Rudolf Shindler era primo de Oskar Shindler.

Quem fora Oskar Shindler certamente você que lê meu blog deve saber. Nada mais, nada menos que o maior herói da segunda guerra mundial. Proprietário de uma fábrica na Alemanha, salvou 1200 trabalhadores judeus do holocausto nazista.


Dario Lins e Hélio F. de Souza, juntamente com a família Schindler, parentes de Oskar Schindler o Herói da 2º Guerra Mundial

Saindo dali fomos até a Igreja Adventista do Sétimo Dia de Aritóbulo del Valle para fotografar essa “filha estrangeira” da Igreja de Bom Retiro. Fundada pelas famílias Otto, Reichenbach e Schlemper as quais se converteram ao adventismo na localidade de Entrada enquanto viviam aqui.


Igreja Adventista do Sétimo Dia - Aristóbulo del Valle - Argentina

Vista interna da Igreja Adventista do Sétimo Dia - Arsitóbulo del Valle - Argentina

Lá estava o pastor distrital dando orientações de sobrevivência e resgate para os Desbravadores (semelhantes a escoteiros) ao velho e bom estilo das igrejas de interior. Não me contive, como líder de Desbravadores que fui por mais de 10 anos atingindo a classe de Líder Master os cumprimentei com nossa saudação “MATANATHA” e paramos para conversar e explicar o porquê estávamos lá na Argentina. Rodeados de desbravadores o sr. Hélio começou a relatar para eles a história dos anjos que cantaram nos céus de Bom Retiro, história essa contata de geração em geração, a qual, está relatada no meu livro.


Hélio contando ao pastor e aos desbravadores de Aristóbulo del Valle a história dos anjos que cantaram em Bom Retiro/SC
Que emoção! Bom, mas já era quase meio dia em tínhamos um compromisso com os amigos Arno e Aldo Genske. Um churrasco argentino nos aguardava. E lá fomos nós saborear aquele churrasco para nós preparado e na companhia de toda família Genske foi que almoçamos. Juntamente comigo levei o “boneco” do livro fotográfico que estou preparando sobe avifauna da serra catarinense e de mãos em mãos o livro era passado e lhe explicava sobre as aves, geografia de nossa região e técnicas fotográficas.


O Almoço estava bom, o papo estava melhor ainda, mas tínhamos que continuar nossa viagem, ou melhor, retornar de viagem para o Brasil. Antes de nos despedirmos a esposa do Arno Genske, sra. Luisa Inês Stier de Genske muito simpática nos presenteou com algumas porcelanas antigas pertencentes à família.  Algumas como presente pessoal outras para serem colocadas no acervo do Museu da Memória dos Imigrantes Alemães. Enquanto isso o Aldo desapareceu, quando vimos lá estava ele também trazendo mais algumas lembranças de seus antepassados para trazermos para o Brasil.

Na última menção que fiz sobre o tesouro encontrado por Augusto Manoel Otto em Bom Retiro, mencionei que com o mesmo ele adquiriu em Aristóbulo del Valle 3000 hectares, por algumas circunstancias essas terras não estão mais com a família. Parte dela compõe hoje o Parque Provincial Salto Encantado Del Valle del Cuña Pirú, local este de visitação turística. 

Com um forte abraço e lágrimas nos olhos dos descendentes dos Reichembach e Otto que imigraram de Bom Retiro para a Argentina seguimos viagem com a forte sensação de que o verdadeiro tesouro dos descendentes de Augusto Manoel Otto é a sua dignidade, honestidade, gentileza, hospitalidade e amizade.


Seguindo viagem


De volta à Ruta 14 voltamos até San Vicente e nos dirigimos à cidade de El Soberbio, cidade  fronterística com o estado brasileiro do Rio Grande do Sul sendo o divisor o Rio Uruguai.  No Quartel militar da cidade de El Soberbio fomos com nosso "General" entregar aos militares argentinos algumas fotos que haviam sido tiradas (sacadas) há um mês atrás na viajem anterior do Sr. Hélio a Argentina.

Um fato que não posso olvidar neste relato é que com seu quepe de General sobre a cabeça o sr. Hélio era constantemente saudado pelos soldados argentinos com continências militares. Em certa altura da viagem havia uma blitz militar e quando o soldado argentino  avistou dentro do Troller o “General” Hélio, em posição de sentido e com a saudação de Continência nem se quer ousou pedir os documentos do veículo, apenas disse : “Adelante General per favor”  (adiante General por favor).




Walter Werlich - Militar Argentino e Hélio Francisco de Souza
Você deve estar pensando: Será que eles riam desses fatos pitorescos? Vou contar a verdade: morríamos de rir o tempo todo, dessas façanhas, enfim estávamos produzindo serotonina para o resto do ano enfrentar o dia a dia de estresse no trabalho.

Ao chegarmos ao porto de El Soberbio avistamos o majestoso Rio Uruguai fazendo divisa entre o Argentina e o Brasil. Confesso que não me contive e fiquei um tanto emocionado ao lembrar que parte daquelas águas haviam saído seguramente há mais de 800 km da minha querida Bom Retiro na nascente do Rio Canoas localizada no Campo dos Padres, local de difícil acesso o qual também tive o privilégio de conhecer e  fotografar.

Pescador Rio Uruguai - El Soberbio / Argentina
Rio Uruguai - El Soberbio - Argentina

Em Bom Retiro conheci sua nascente, praticamente um fio d’água e agora se mostrava caudaloso a minha frente. Era final da tarde de domingo 06 de março e a Aduana estava fechada e a balsa para transportar pessoas e veículos não estava operando. De forma, que tivemos que pernoitar ali mesmo.

De volta ao pequeno centro de El Soberbio saímos à procura de um local para dormir, o que estava ficando difícil, pois com o porto fechado e com a realização de um grande casamento na cidade as pousadas e hotéis estavam lotados. Finalmente conseguimos um local e pude em El Soberbio numa rápida escapada fotografar pombas-de-bando e suiriris-cavaleiros na praça central. Foi quando dois simpáticos garotos que jogavam futebol sonhando talvez em se tornaem como Maradoa ou Messi me pediram para que eu os fotografasse.


Suiriri-cavaleiro (Machetornis rixosa)
Pomba-de-bando (Zenaida auriculata)
Sonho Argentino, futuros: Maradona e Messi
O dia estava acabando, fomos para o hotel tomamos um banho revigorante e fomos jantar. O último prato que comemos na argentina foi frango com mandioca e salada, quando serviram me assustei com a quantidade. Era muita comida de forma que não consegui terminar todo o prato.

Do restaurante fomos até o posto telefônico ligar para as donas de nossos corações, eu para a Soraya, Walter para a Claudia e o senhor Hélio para dona Nair. Só para constar era a segunda ligação que fazíamos, pois, nessa região em Missiones os serviços telefônicos e de internet são extremamente precários.  Última noite na Argentina o dia amanheceu e lá estávamos nós novamente na frente da Aduana as margens do Rio Uruguai.


Nascer do Sol  - Rio Uruguai / El Soberbio - Argentina
Aguardando a Abertura dos serviços na Aduana de El Soberbio

Quando o serviço abriu, adquirimos as passagens da balsa, entregamos o permisso e fomos informados de que do lado brasileiro em Derrubadas, o Salto de Yucumã estava fechado. Assim sendo infelizmente não pudemos visitar essa maravilha da natureza. Com a Aduana aberta nos dirigimos até a margem do Rio Uruguai e vimos a balsa sair do lado brasileiro completamente lotada de compatriotas que estavam vindo para a Argentina.

Travessia Rio Uruguai - Brasil/Argentina

Um grupo sai outro entra. Em número bem menor entramos na balsa e  saudados pelo sol que brilhava ainda em céu brasileiro juntamente com os carros  nos dirigimos para a nossa terra pátria. Adiós, no llores por mi Argentina! (Adeus, não chores por mim Argentina!)


General Hélio com seu Troller entrando na balsa, rumo ao Brasil
Travessia na Balsa Rio Uruguai - Argentia / Brasil
Sol brilhando no céu brasileiro saúda seus filhos que retornam a terra pátria

No Brasil mais uma revista na Aduana Brasileira. Minha câmera certamente chamou a atenção, pensaram ser nova, mostrei que era usada e não tivemos problemas. Assim sendo, seguimos viagem. 






No Rio Grande do Sul não pude deixar de notar o capricho dos gaúchos nas extensas lavouras que pintam seus campos de diversos tons que variam do verde ao amarelo. Da todos os lados até onde a vista alcança se pode ver a produção dos grãos de soja. Com certeza posso afirmar que os gaúchos têm do que se orgulhar.


Plantações de Soja - Rio Grande do Sul

Após passarmos pela cidade de Sarandi paramos para almoçar. Que alegria! Sem desmerecer a cozinha Argentina, estávamos novamente vendo feijão e arroz em nossa frente.    
Seguimos viagem passando por Três Palmeiras e Nonoai e estávamos agora muito próximos de Chapecó. Mais uma parada para registrar o Rio Uruguai um pouco menor que o avistado na Argentina, mas que faz divisa entre os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.


Rio Uruguai - Divisa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul

Passada a fronteira dos estados em pouco tempo estávamos chegando à cidade de Chapecó, passamos em frente à Empresa do Sr. Hélio - Chá Chileno e infelizmente por ser feriado de carnaval não pudemos ver as diversas atividades desde a seleção até o empacotamento das ervas.

Numa rápida passagem pelo seu sítio vimos no Sr. Hélio uma pessoa extremamente apegada aos seus animais. Ele alimenta diariamente apenas 32 (trinta e dois) gatos. Possui 42 (quarenta e duas) colméias de abelhas jataí (Tetragonisca angustula). Seis fontes de água correm em meio à mata e de ponto em ponto uma caneca de alumínio está ao lado das fontes para saciar a sede.

Já estava tarde e nossa viagem ainda não havia terminado, precisávamos retornar para Bom Retiro. Ainda tínhamos pela frente quase 500 km. No final da tarde nos despedimos do amigo sr. Hélio e de sua esposa sra. Nair e retomamos viagem, a BR-282 iria nos trazer de volta para casa. Chegamos de volta exatamente as 00:12 minutos do dia 08 de março, cheio de saudades de minha Soraya e de meu Lesther.

O sr. Hélio - Velho Xirú Andarinho, ficou em Chapecó, eu em Bom Retiro e Walter seguiu para sua casa em Biguaçu/SC. Cada um num canto do Estado, mas com algo em comum: as eternas lembranças desta aventura, e das amizades que na Argentina cativamos, as quais, certamente jamais olvidaremos.

 
Para visualizar em tela cheia com uma melhor resolução, acesse esse vídeo no youtube 
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3 comentários:

  1. Meu Deus, que relato fantástico!!!Coisa de excelente pesquisador e exímio historiador...BRAVO!!!!!!!!Vc é assim!!!!!!

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  2. Muito bacana tio home ... parabens! Tu tá na profissão errada. rsrsrs. Abraço.

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  3. oi dario eu sou jhonatan u filio de arno genske de argentina!muito boas suas fotos...meus parabens pra voce.

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